Tenho medo de encontrar a morte ie2y
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Por Suzi Aguiar 3i6u41
No início da pandemia tive um sonho engraçado: nele eu ia andava muito apreensiva pelas ruas, olhando para todos os lados, com medo de contrair o tal Corona. Mas assim que dobrei uma esquina, dei de cara com o bichinho, naquela forma engraçadinha que aparece nas reportagens. No susto gritei de pavor e acordei todos da casa. Rimos muito da história que não esqueci mais.
Agora, muitos meses convivendo tão de perto com o vírus e com a marca das 500 mil mortes, eu te pergunto, caro leitor:
Você tem medo de encontrar a morte?
Não! Não estou falando daquele modelo caricato do esqueleto vestido de preto e com a foice na mão. No sonho eu tinha a convicção de ter tido um encontro com a morte, literalmente. Porque é real, esta ameaça está vagando por aí. Ao sairmos de casa, principalmente os que não cumprem com as medidas de prevenção, podemos estar indo ao encontro da morte. Ou ainda, ao recebermos alguém de volta depois de um dia de trabalho, de estudo ou lazer, podemos estar acolhendo a morte em nossa casa.
Isto é tão verdadeiro e apavorante! Se todos pensássemos na grande possibilidade de abraçarmos a morte, através desta doença tão traiçoeira, talvez fossemos mais cuidadosos, talvez os gestores se preocuem e agissem com mais eficiência para proteger a população.
Agora ultraamos a marca das quinhentas mil mortes! O sentimento de luto, como um sudário, cobre o Brasil. Há quinhentos mil lugares vazios nas mesas, há um número muito maior que este de crianças que não entendem o sentimento que estão vivendo, há milhões de abraços não recebidos, de conselhos não dados, de sorrisos apagados. Todos os sentimentos e questionamentos que envolvem uma perda são intensos, dolorosos e muito tristes. O que dizer então de famílias que perderam mais pessoas? E, mais triste ainda, é pensar nas centenas pessoas que guardam a culpa de serem os transmissores na família. Sejam as culpas ou as recordações que enterramos no silêncio nunca deixam de nos perseguir…
Vivemos uma tragédia sem precedentes. Pior que isso é assistirmos, de forma mecânica, ao crescimento dos números. A soma diária de mortos é ível a todos. Parece que perdemos a capacidade de nos indignarmos. Sabemos que o cenário vai piorar pois os números já começam a escalar os gráficos, há a possibilidade de uma terceira onda e a chegada de uma nova cepa ainda mais letal.
Mas há esperança, sim. Em Nova Iorque, com 70% da população vacinada, já foi possível abolir a obrigatoriedade do uso da máscara. Isso nos dá um certo alívio e o desejo de vislumbrarmos este patamar.
A curto prazo o que eu realmente espero é que estejamos aprendendo as lições de vida que este caos está oportunizando. Que saibamos aproveitar ao máximo!
Publicado em 25 de junho de 2021.